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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Meio século depois do início da guerra colonial.


Meio século depois do início da guerra colonial…

Escrito por Hugo Duarte Domingo, 27 Fevereiro 2011 10:04 - "Campeão das Provincias"
A 04 de Fevereiro completaram-se 50 anos sobre o início da guerra colonial protagonizada por Portugal em Angola, onde morreram mais de 13 000 pessoas. Não interessa de que lado, a morte foi injusta para todos. Morreram no sentido literal da palavra, porque o povo português pouco fez para lembrá-los.
O silêncio matou muitos mais, os que se suicidaram, os que não morreram, mas que com esta sofreram e perceberam que ninguém mais se quis lembrar deles, fingindo que nada daquilo tinha existido. Só as «batalhas de Aljubarrota» podem fazer parte da História? Os massacres nunca existiram, nunca foram enviadas pessoas com perturbações mentais e deficiências físicas para a guerra. Ninguém morreu! Pelo menos, que valha a pena lembrar!
Mais uma vez o destino! Ele faz-nos olhar para o passado como se ele não tivesse existido, como se simplesmente tivesse passado, sem deixar marca, como um sono sem sonho nem pesadelo. Ora, foi precisamente o sono o mais afectado pela guerra. Onde mais se fez notar a falta dele foi onde mais se falou nela, nos hospitais psiquiátricos. Os «doidinhos» que a guerra não matou, e a quem a memória não baqueou.
A violência doméstica, tantas vezes relatada em telejornais, será apenas obra do destino? Quantos milhões de vezes, famílias acordaram ao som de pesadelos de ex-combatentes, de mães, de filhos, de gente lembrando pessoas amadas, momentos de sofrimento! Quantas crianças ficaram sem perceber momentos de mudança brusca de humor de pais ou de avós, quando algo vinha à memória, um simples foguete, ou o cheiro a queimado, uma criança ou uma mulher a gritar! Foram 13 anos da História praticamente ocultados nas escolas, nos cinemas, nos livros, nos cafés, nas ruas, em casa.
Eis que, de repente, dou por mim em frente a três turmas de mais ou menos 20 alunos cada e ninguém sabe o que foi a guerra colonial, jovens entre os 14 e 18 anos de idade. Vejo como oco o substrato que pisam, não sabem de onde vêm, quem são. Saberão para onde querem ir? E os professores e outros membros da sociedade, saberão? Ignoramos o esforço dos nossos avós, das pessoas que falam a nossa lingua, é verdade que foi um esforço inglório, em vão, nada era justo, mas foi um esforço, ainda mais esforçado por isso. Foram, pelo menos, duas gerações de portugueses e africanos que morreram e que se mataram.
Quem nos levou para este abismo? Não há responsáveis? Pois, é o destino. António Oliveira Salazar e outros ex-governantes nada tiveram a ver com isto? E tantos outros que contribuíram para a decisão de alimentar uma guerra estúpida? A Justiça até pode absolver, amnistiar, embora não o deva. Mas a História tem de apresentar os factos e os culpados, porque não foi o destino, mas sim a decisão, a acção fundamentada de fundamentos estúpidos, mas não inocentes.

Um povo sem memória é um povo sem futuro. Será por isso que o nosso está pouco risonho?

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