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quarta-feira, 11 de abril de 2012

Depoimento do Poças-4ª parte

(Cont...) Mas a sorte bafejou a minha parte, isto aconteceu assim, o Melo e o Torres chamei-os porque eles estavam muito longe e o Nogueira e o Teixeira ainda mais longe, uns 15 metros quando o turra estava caído no riacho, chamei a minha esquadra para o revistarem de onde apanhámos 1 arma, 2 facas, 1 catana, 2 blusões e 70 e tal munições depois, é que foi o bonito, quando tentámos pegar no turra, ele não era muito pesado, se pesasse 55/60 kgs era o máximo, ficou com o braço direito um pouco levantado. Estávamos retirados uns 30 metros do acampamento, escorreguei e aleijei-me na mão direita, quando cheguei ao pé do nosso capitão disse-lhe, matei um turra, a malta disse logo que era mentira, foi preciso todos da minha secção dizer que era verdade.
O capitão mandou, é preciso trazê-lo para aqui, eu estava aleijado da mão direita, cansado e muito nervoso, o capitão virou-se para o 1º cabo Marques, pega na tua secção e vai buscá-lo, o Marques disse qualquer coisa ao capitão, que o cabo Poças não entendeu. A vontade do Marques, não era nenhuma, então, eu, Poças disse, esteja descansado, eu e a minha secção, vamos buscá-lo, assim aconteceu.
No outro dia trouxemos o morto para o acampamento, todo destruído, onde dormimos essa noite. Não é para me gabar mas, o nosso capitão mandou montar 3 postos de guarda, isso é que era bom, ficou só um posto e todos à beira do Poças, eu não dormi, palpitou-me que íamos ser atacados nessa noite.
Felizmente, isso não aconteceu, depois de irmos buscar o morto, os meus camaradas acreditaram que eu tinha mesmo matado um turra. Lutei com o Manuel Quinsunga, nenhum camarada fez fogo porque quem o viu e quem lutou fui eu, cabo Poças. Se fosse mais alguém a fazer fogo, o Poças não regressava a Portugal vivo, metam esta história na cabeça, eu Poças, já escrevi uma carta a esse 1º cabo, o mecânico Azevedo sabe quem ele é, começa pela letra M e L, o que é verdade manda Deus dizer. Escrevi neste meu depoimento a mesma coisa na carta que mandei ao cabo que não sabe dar o valor que eu tinha, nessa altura. Hoje, eu podia não estar aqui convosco, caso eu não fosse tão duro e destemido, não fazia o que fiz.
Contei tudo ao nosso capitão, toda a verdade da operação, o capitão escreveu uma mensagem a dizer o seguinte aos turras; para não vos acontecer o mesmo, entregai-vos à tropa do Lucunga.
Quando viemos para o quartel, fui muito bem recebido pelo alferes Bicho, foi ele o primeiro que me deu um abraço, os furriéis e sargentos e o Bicho, levaram-me para a messe beber um wisque, foi uma festa, a minha esquadra também eu saúdo, pelo apoio que me deram Manuel Egídio, Manuel Macedo, Fernandes Nogueira e Domingos Teixeira e os 2 cabo verdeanos.
Isto é só para dar a entender a toda a Companhia e ao Batalhão, a realidade do meu combate por isso, o exército gratificou-me, com uma viagem Lucunga/Portugal e Portugal/Lucunga.
Angola 71/74 Terminado."

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